Quantas vezes nos colocamos a idealizar e pensar no futuro? Quantas vezes criamos um cenário em nossa mente, visualizando o que desejamos que aconteça daqui algumas décadas? Isso poderia ser errado?
Atuo como coach profissional, realizando tanto trabalhos individuais como em grupo. Já realizei inúmeras ações de coaching diferentes em diversas áreas, desde coaching de saúde e pessoal até business coaching e coaching em grupo.
Ou seja, trabalhar com objetivos é algo essencial dentro de processos de coaching. Sem objetivo, não há processo. Mas dentro desse conceito de formar objetivos, sejam eles de vida, profissional, de curto ou longo prazo, vou lhes contar uma história que vivenciei com um de meus clientes. Jamais vou esquecer dessa história e você, ao ler esse relato, entenderá o porque.
Meu cliente teve uma doença, um câncer, o qual era relativamente agressivo na região do estômago. Ele tem 34 anos, uma carreira promissora como profissional de TI, atuando dentro de uma respeitada empresa de grande porte aqui no RS.
Ele não tem filhos e nem esposa, tendo tido apenas o trabalho como grande fonte de motivação pessoal. Quando ele descobriu a doença, seu mundo caiu. Ele teve que se afastar do trabalho e tudo perdeu o sentido. Grandes questionamentos começaram a surgir, tais como: “O que estou fazendo nessa empresa? O que estou fazendo na minha vida de útil, afinal?” Ao descobrir seu câncer , entrou em conflito existencial. Nesse momento, resolveu me procurar, por indicação de uma outra cliente que atendi.
[sociallocker]Quando conversei com ele a primeira vez, percebi que o grande objetivo dele era descobrir as respostas às questões que se fazia. Esse era um ótimo objetivo: descobrir o seu propósito de vida.
E assim começamos o processo de coaching. Fui conduzindo-o pelos encontros a um grande mergulho dentro de si mesmo, o qual foi muito intenso e significativo. Embora todos saibamos que somos mortais, a visibilidade da existência real da mortalidade trás uma clareza mental impressionante. E ele descobriu, já no meio do processo, seu propósito de vida, seu legado e como queria ser lembrado quando não estivesse mais aqui. O propósito de vida deste cliente, em linhas gerais, era fazer a diferença na vida das pessoas de forma positiva.
Assim, resolvi ir além, dado que já sabíamos qual o propósito de vida dele. Chegava o momento de definir objetivos e metas. Nessa sessão, em que resolvi ir além, foi que aconteceu algo muito interessante.
Usei uma técnica para que ele pudesse visualizar e estabelecer objetivos pessoais e profissionais para sua vida, nesse caso, num prazo de até um ano. E o cliente não conseguiu e não se permitiu entrar na dinâmica para definir objetivos.
Nesse momento, ele parou e me disse: “Leandro, eu não consigo fazer isso.”
Fiquei um pouco surpreso e bastante curioso. E perguntei : “E o que te impede de definir esses objetivos?”
Ele respondeu: “É que eu não sei se vou estar vivo até lá…”
Talvez você leitor agora tenha sentido o que eu senti no momento…
O que eu poderia dizer? Que ele estaria vivo? Que ele devia pensar positivo?
Mas, ao invés disso, usei um insight que me ocorreu, pela experiência que já tive em situações assim. Tive o seguinte diálogo com ele:
Eu: “Quanto tempo tu acha que tem de vida?”
Cliente: “Não sei, talvez alguns meses… Talvez décadas… Como vou definir objetivos se não sei quanto tempo tenho de vida?”
Eu: “E de quanto tempo tu precisa para fazer o teu propósito acontecer?”
Cliente: “Não sei ao certo… Talvez um ano…”
Eu: “A tua missão, ou propósito de vida, é fazer a diferença na vida da pessoas. Existe alguma forma de que tu consiga fazer a diferença na vida de alguém amanhã?”
Cliente: “Talvez…”
Eu: “Certa vez ouvi um amigo me dizer que uma frase fez toda a diferença na vida dela, em um certo momento. Tu acredita que uma frase pode fazer a diferença para alguém?”
Cliente: “Sim. Acho que sim.”
Eu : “E tu acha que pode dizer algo que faça a diferença para as pessoas, hoje?”
Nesse momento, o cliente me olhou com um olhar reflexivo e disse: “É possível.”
Eu :”Um dia ouvi de um grande mestre que o propósito de vida não é algo que precise de tempo para ser realizado. Afinal, o tempo é uma metáfora. Você pode fazer teu propósito acontecer todos os dias. Só depende de você agir alinhado ao que tu em por missão de vida. Felicidade é fazer todo o dia aquilo que se ama, aquilo que temos por propósito. A felicidade não é um sonho distante, é uma realidade no aqui e agora. Não precisamos nos preparar para sermos felizes. Não precisamos de objetivos megalomaníacos. Não precisamos de grandes obras. Apenas o que precisamos é tecer, a cada dia, um ponto a mais na grande malha da nossa vida, sempre alinhado ao que realmente queremos fazer…”
Surpreso, o cliente me diz após alguns segundos: “Nunca havia pensado dessa forma…”
Eu: “Definir objetivos de longo prazo são necessários, pois são como bússolas a nos apontar o nosso norte a todo o tempo. Mas, como bússolas, não indicam um ponto de chegada, mas sim um caminho a ser seguido. Ao viver cada dia indo para o sentido dos maiores objetivos, tu já está cumprindo teu propósito. O propósito de vida está em cada passo de nosso dia a dia, e não nas grandes realizações.”
Dei uma pausa de alguns segundos para que ele absorvesse. E retomei com a pergunta que ele precisava, naquele momento, responder:
“Tu acha que é possível viver cada dia como se fosse o último, pelo resto de tua vida, independente do tempo que for?”
Nesse instante, uma lágrima surgiu no olhar dele. Ele respirou fundo e respondeu: “Sim. Eu consigo.”
Coloquei minha mão em seu ombro e disse: “Eu também acredito que tu consegue. Vamos definir então qual o seu norte, ou seu objetivo de até um ano?”
E com isso, definimos o seu objetivo de longo prazo.
Concluindo, meu cliente retirou o câncer no estômago com sucesso, e passou pela quimio e radioterapia. Fez alguns exames no mês passado e está limpo. Mas tem que fazer revisões a cada 2 anos. O futuro é uma incógnita.
Hoje, ele vive cada dia como se fosse o último, executando o seu propósito.
E é feliz, pois descobriu o seu maior presente: o agora…
E você leitor, vê sentido nisso tudo? Você se sente-se feliz com o seu presente?
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